MARCAS DE UMA PAIXÃO

Se ao cruzarmos um duro olhar

A pele se eriçar sob o áspero tecido

E meus pensamentos se engravidarem

Com teu doce sorriso torpe;

Direi a mim mesma que nada mais me alucina

Tua ausência já não sangra o verde dos meus olhos

Minha alma traja luto

Vivo a utopia da realidade novelesca.

Se em sonhos tuas carícias me forem tormento

E teu hálito ecoar nos caracóis dos meus cabelos

Serei fria e inatingível.

De ti só te guardo desprezo.

Direi a mim mesma:

Sou feliz

Não necessito da ilusão do travesseiro

Sufoquei teus desejos sob meus desejos

Teu pedaço de prazer já não me faz perder a cabeça.

Mas se algum dia a carne de ti sentir saudade

E meu corpo acordar trajando o cheiro do teu pijama

E se lembranças abrirem uma fenda no duro peito

E se o fogo queimar o lençol da cama;

No ardor da demência gritarei:

Vem... não te demores mais!

Invadas a clausura do meu quarto

Padeço da insanidade da paixão

O cavo doirado quer transbordar alfazemas.

Antonio Virgilio Andrade
Enviado por Antonio Virgilio Andrade em 20/07/2005
Código do texto: T36182