TRANSTORNO BIPOLAR

IDAS E VINDAS - TRANSTORNO BIPOLAR

Ninguém nunca sabe quando vou entristecer,
Ninguém nunca sabe quando vou desatinar,
Às vezes estou tão feliz que chego a delirar,
Sentindo exaltação no espírito, alucinação e poder,
Advinda de um transtorno chamado bipolar.

Às vezes quero brilhar num grande palco
E ser a Gênesis declamando a origem da vida,
E de repente não me sinto mais no alto,
Saio do salto, numa vergonha desmedida,
A me esconder na última fila como um eclipse,
Como se estivesse numa rua sem saída,
Como um prenúncio, presságio do apocalipse.

Em alguns momentos desejo o sol e a aurora,
Ladeado de sentimentos de euforia
Ou a lua em fases de sofrimento e agonia,
Cheia, crescente, minguante e nova,
A aparecer somente no fim do dia.

Às vezes me sinto caminhando pelos bosques
Vagarosamente, sem pressa e otimismo,
E quando percebo estou no cume de uma montanha,
Pronto para saltar de pára-quedas, à beira de um abismo.

Às vezes sou Decadência, declínio, um adeus,
Prestes a entrar num buraco negro que se deslinda,
E quando percebo, sou esplendor, “no auge”, apogeu,
Como um herói aclamado numa berlinda.

Um chuvisco no outono ou uma tempestade glacial;
Brisa suave ou ventania, no futuro incerto ou outrora;
Soturno, sombrio, uma garoa, bossa nova;
Claridade, movimento, uma torrente no carnaval.

Atrevido, insolente, descarado
Ou comedido, humilde, calado.
Hora respirando no céu como um falcão,
Hora sufocado na prisão, um condenado.

Jubiloso ou patético,
Obediente ou insubordinado,
Tarja preta ou energético,
E no rio, nascente ou estuário.

Abraço acalorado ou um olhar frio;
Ser o último lugar ou um campeão com recorde;
Embarcar na primeira classe de um concorde
Ou navegar em águas mansas num navio.

Áspero ou macio; fino ou grosso;
Quente ou frio; Liso ou rugoso;
Estalos juninos ou explosão em um paiol;
Alvorada ou derradeiro pôr-do-sol;
Região sul ou extremo norte;
Deprimente vida ou esfuziante morte.

Transtorno ou distúrbio bipolar;
Psicose maníaco-depressiva;
Alternância constante de fases
Entre depressões e excitabilidades.
Incessante mudança de um humor bestial,
A decidir entre a esperança e o pessimismo,
Eterna dualística do maniqueísmo,
Que divide o mundo entre o bem e o mal.

Principio da dualidade do yin-yang,
Representados pelo claro e pelo escuro.
É como ser um “João bobo” em cima do muro,
Num contínuo movimento cíclico.
São arquétipos opostos da natureza,
Hora valendo-se do vigor oral de um profeta bíblico
Ou da “não violência” de Gandhi como fortaleza.

O preto exprime o yin. É remanso.
O branco é correnteza, simbolizada pelo yang;
Posso dançar um forró ou um tango,
Em solo firme, na várzea ou no mangue.

Já procurei um psicólogo, psiquiatra e até alquimia
Pela cura permanente dessa antítese racional,
Na busca incessante da panacéia, o elixir da longa vida,
E de preferência sem nenhum efeito colateral.
Ledo engano, controvérsias e mentiras,
Para organizar meu dia-a-dia,
Somente um Terapeuta Ocupacional.