Cegos na Chuva
Faces pálidas passeiam
Nas avenidas gélidas da indiferença.
O menino cospe fogo
Exibindo sua fome na faixa de pedestres.
O semáforo indica o sinal vermelho.
A barriga arde de desejo.
O motoqueiro acelera,
Corre na contramão.
Umas mãos pedem moedas,
Outras se valem dos descuidados
Muitas indicam o caminho da violência.
O ônibus estaciona fora do ponto.
Leva passageiros como se transportasse parafusos.
Um senhor deita na calçada
Fecha a caixa de papelão.
Cai a primeira gota de chuva:
O céu está nublado.
Cai a segunda árvore:
A senhora tem os cabelos tingidos de vermelho.
Cai a terceira casa:
A moça protege o penteado,
Esconde-se na marquise.
O rapaz corre para seu apartamento:
Vai começar o novo programa na televisão.
Os bueiros vomitam enojados
Os dejetos da cidade de papel.
Olho o relógio, estou atrasado.
Bocejo! O trânsito está lento.
Então, aumento o volume do meu MP4.
Não a nada o que se fazer nessa cidade.
Vou cochilar um pouco.