“Visões do meu descaso”

Eu vi, a fome faminta

Deliciando-se na angustia

De ossos e peles

E os olhos arregalados das crianças

Pedindo socorro em forma de pão

A fome faminta

Devora por dentro

Com a força dos dentes de uma fera voraz

Eu vi, as mães carregadas pela viuvez

Sentarem seus ossos as margens da estrada

E esperarem a fome faminta alimentar-se

De mais um rebento seu

E de seus olhos acostumados

E estéreis como o chão

Não mais verterem lágrimas sequer

Eu vi, a fome faminta

Fazendo moradia em milhões de hospedeiros

Ingênuos, indefesos, fracos

E esquecidos

Até que me dei conta das horas

Fechei os olhos mais uma vez

E percebi que estava na hora da minha

Quinta refeição do dia

Varley Farias Rodrigues