Doce recordar

No dia em que casei

toda eu era sorrisos

laranjeira e tafetás

renda-pérola vestida

a casa cheia de flores

correrias e amigos.

Minha Tia me chamava

e baixinho assim dizia:

– Quem se casa, assim não ri!

– Mas porquê, se sou feliz?!

– Guarda isso só para ti.

– Não posso parar de sorrir,

o dia é lindo. É o meu dia!

– Mas uma Noiva não ri.

– Porquê, porquê, minha Tia?

– Deve temer e estar triste,

porque deixa Pai e Mãe,

vai começar nova vida.

– É por isso que me rio:

vai ser nova minha vida!

– Não sabes como ela será.

– Será minha! A Minha Vida.

por isso canto e sorrio.

– Quem muito ri mais chorará.

– Pois quem viver, logo verá!

– Mas faz como te digo:

guarda esse sorriso

guarda-o bem só para ti.

– Porquê, porquê minha Tia,

esconder minha alegria?

– Menina, que vão pensar?

assim não é decente,

pode mesmo dar azar...

– E eu com isso ralada!

Quero rir, quero bailar,

pintar no céu arco-íris,

o Sol e a Lua beijar...

Tantos anos passaram

Houve risos e houve dor

Mas quanta coisa aprendi...

Caminhos de mar e terra

Pedras, silêncios, clarões

Quase em pedaços fiquei...

Mas foi cheia minha vida

e os filhos frutos de amor.

Adeus, adeus minha Tia

Sou pássaro, onda e flor.

Meu olhar não tem limites

Nem limite meu amor

Sou terra e o sol me beija

Sou estrada e nela caminho

É mais terno meu sorriso

E doce o meu recordar.

Eugénia Tabosa
Enviado por Eugénia Tabosa em 03/02/2007
Código do texto: T367689
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