Do amor

(resposta a Aldo Guerra)

Eu escrevo sobre o amor

porque o amor é caolho

e meu mundo, enviesado

clama por ângulos

inesperados.

Eu falo do amor

porque ele me escapole das mãos

feito uma enguia

que se devolve, debatendo,

ao mar.

Eu futuco o amor

em busca de coisas perdidas—

e de outras

jamais tidas.

Eventualmente, eu me faço

à semelhança do amor,

mel e fel numa cuia sem fundo.

Eu me faço como o amor,

pleno e amplo e claro.

Eu me faço como o amor,

raso e vazio e oculto.