Inverno na casa

No frio dos casebres encarnados, entre as brechas das telhas,

Sussurra um vento imperioso trazendo um novo perfume.

De impacientes flores que desatinam ao lume,

Passam nas janelas escancaradas

Alvas nuvens, em róseos céus de fins de tarde.

Como na intimidade dos sabores na língua...

Como o mel da flor, no beijo do colibri.

Como nascem os destinos de acasos

Flores em um vaso

Deixadas para mim

Do meu olhar equivocado

Na ilha metafórica do meu pensamento abandonado

É que tento encontrar

Entre a alva flor de algodão, uma negra semente

Ou no espanto dos pássaros num barulho de asas

Uma festa do trigo,

Uma porta aberta para o inverno na casa

Mais nem uma canção que se acorda em uma noite desejada

Nem uma palavra madura

Nem um fogo que aquece

Nem um vinho que embriague

Uma dor que não se esquece

As próprias filhas procuram

Meninas dos olhos meus

As fundas águas escuras

Do passado que foi meu