A eterna criança
Os anos passam,
nos cabelos os fios embranquecem,
algumas memórias se perdem,
e diante do olhar não temos só as paisagens,
já se fazem notórias as lentes.
É o tempo não perdoa,
Mesmo aos que o desfrutam sem cerimonia.
Também apresentam linhas de expressão
em seus traços.
As marcas do tempo em seus retratos.
Conservamos de nosso nossas lembranças,
Dias que vivemos.
Ainda no peito o amor balança,
A cada cardiaco movimento.
E não é por já bater a mais tempo,
Que o coração está um pouco lento.
Os sonhos não cessam porque envelhecemos,
Eles mundam de canal.
Nem tampouco sonhamos menos,
Só os sonhos que não são os mesmos.
E a face fica tão digna, com a moldura grisalha.
E temos ainda desejos,
Ainda mantemos anseios,
Também possuimos algum medo.
Ainda que a maturidade nos dê uma aura de segurança.
E o quintal ainda é repleto de crianças,
Há gritos e risos e elas correndo,
Mesmo que já não sejamos nós mesmos,
E sim as nossas crianças.
Estou envelhecendo...
Estranho, ainda ontem era só uma criança.
Eu cheguei a imaginar que mamãe e papai eram eternos,
Que eu seria sempre uma criança.
Mas eu também estou envelhecendo...
Estou envelhecendo e nem deixei de ser criança,
Como é mesmo o ditado?
Ah agora me lembro,
E só agora eu entendo quando dizem:
“Quando envelhecemos voltamos a ser crianças”.