NECESSIDADE

Preciso arrancar do peito o poema

Que teima em fazer-se mudo.

Preciso fazer sangrar a alma

Até que a última gota se transforme em lágrima.

Nem só de risos vive o palhaço.

Preciso recriar a noite com seus mistérios

Para encontrar o amor das prostitutas

E a solidariedade dos embriagados.

Preciso, ah! Como eu preciso ser

Muito mais do que um demônio

Para enfeitiçar o tempo.

Preciso encontrar um velho amigo

Mesmo que apoiado em muletas

Ele possa ouvir a minha solidão.

Preciso tatuar no vento a imagem do teu corpo

Para que as tempestades sejam perfumadas.

Preciso decifrar a esfinge

Que se esconde em tua alma

Para não ser devorado

Pelos germes da incompreensão.

Preciso brincar com as crianças

Que visitarão o meu túmulo

Em busca do último verso:

A elas pertencem o reino das palavras.

Preciso ouvir o canto das sereias

Para que a minha canção seja imortalizada.

Preciso inverter o percurso do sol

Para reinventar a humanidade.

Preciso, ah! Como eu preciso.

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 18/07/2012
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