De encantos

De encantos

Dete Reis

Por ter essa vontade louca de falar de encantos,

por ter essa ânsia tanta: descobrir sentidos,

por ter essa ansiedade de abrir a boca,

por ter essa insanidade presa aos meus ouvidos.

Por ser assim inviável a tantos passantes,

por ser e andar sonhando, vagueando abraços,

e ver a incerteza acesa, olhos vacilantes,

me perco entre os resolvidos,

procurando espaços.

O intenso que não se revela, se esfumaça e some.

É fruto da fusão: sentir e tentar dizer...

é soma do olhar teimoso, absorto e solto,

e a causa desse sentimento livre se perder.

Se perde no vazio imenso, lonjuras, distâncias,

e voa por tantos lugares, ao simples se dá

emerge de um novo encanto, meras reticências...

alcança o belo acanhado e comum que há.

E o feito de se achar na vida, curiosamente,

catando por entre suas trilhas, qualquer poesia...

dançando nos braços do vento alegre e indolente

compondo junto a natureza rara melodia,

seguindo o instinto que brota bruto irreverente,

da terra, do luar, da chuva, do canto do dia.

E o ganho por pensar poemas, por reter ruídos,

e o lucro do indefinível penetrar no olhar,

é tanto, pois nas alvoradas surgem renascidos,

momentos, famintos vorazes soltos pelo ar.

E o fruto colho com as mãos, com choro ou sorrisos,

a cada improviso acorde, que a vida tocar!

Dete Acioli
Enviado por Dete Acioli em 24/07/2012
Código do texto: T3793916
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