A decepção do caipira ;
A decepção do caipira ;
Caminho,
Cantando em tons suaves
A melodia da felicidade vivida,
Por percorrer alegremente
Estradas ainda floridas .
Viajo em meu destino,
Com o sonho de me presentear,
De forma coloquial,
A humanização da sociedade .
Quando me aproximo,
Do destino traçado,
Me entristeço,
Pois observo,
Que as vias antes floridas
Agora se tornam frias .
O barro macio e mexido,
Da estrada caipira,
Rodeado por árvores e arbustos,
Se transforma num chão escuro,
Cercado por mato cerrado .
O contato com esse chão
Queima a sola do calçado
E assim,
O caminhar,
Se torna mais pesado .
A paisagem dessa aventura,
Alem do mato cerrado,
São placas com nomes estranhos,
Que indicam uma direção,
Que eu poderia classificar,
Como a reta do fim do mundo .
O ar antes puro
E com aroma de eucalipto,
Agora se torna denso,
E tem cheiro,
Odor,
De queima de algo estragado .
A estrada então,
Começa a se alargar .
Se divide em duas,
Três,
Até em quatro partes,
E o volume de carroças com motores,
Aumenta sem parar .
O barulho é infernal,
E essas carroças,
Ainda tocam um apito horrível,
Parecendo um cabrito
Indo de encontro ao abate .
Meu caminhar,
A cada segundo fica mais lento,
Pois,
Tenho medo de prosseguir
E ser jogado ao longe,
Por uma carroça dessas .
Avisto então,
Ao longe,
Um rio,
E de pronto instante
Um sorriso toma conta
Do meu rosto cansado e suado .
Saio em passos largos,
Vislumbrando o encontro .
Mas,
Ao me aproximar,
Sinto cheiro de fossa .
Olho em todas as direções
A procura do buraco fétido,
Não conseguindo achá-lo .
Sigo correndo,
Em direção ao bravo rio,
E fico pálido,
Arrependido,
Ao perceber na margem
Que o cheiro doentio,
Prolifera das águas do rio .
Paro de imediato .
Lágrimas descem em meu rosto,
Pois,
Nem para matar a sede
Aquele rio serve .
Volto a estrada
Em busca da tão falada cidade,
E continuo,
A buscar o meu destino,
Com sede,
com fome,
E cansado .
Ao olhar a frente
Na direção do sol,
Percebo que a noite se aproxima .
Então,
Na estrada sombria,
Procuro um lugar
Ao menos limpo e seguro,
Para a minha dormida .
Ao acordar no amanhecer,
Com o canto de poucos pássaros,
Retomo o caminho antes sonhado .
Ando por mais algumas horas
E de repente avisto,
Ao longe ainda,
Formas que lembram castelos .
Construções altíssimas,
Que transmitem a quem nunca as viu,
Um ar de escuridão .
Minha decepção
Aumenta a cada passo dado .
O deslumbre de um sonho
Se torna a cada segundo
Na decepção da realidade .
Depois,
De muito peregrinar,
Chego ao meu destino,
E,
Adentro na floresta da humanidade .
Mesmo com toda decepção
Sofrida ao longo do caminho,
Não consigo esconder minha admiração,
Pelo tamanho das montanhas de concreto .
Tento imaginar
Como o ser humano,
Uma pequena formiga
Em comparação a estas obras arquitetônicas,
Podem orquestrar
Com infinita beleza,
E ao mesmo tempo,
Com enorme escuridão em suas formas,
Estes marcos imperiais
Da sociedade civilizada .
Ando assustado pelas ruas povoadas,
E acabo me perdendo
Em seus labirintos sombrios .
Tenho vontade de gritar,
De berrar ao mundo,
A minha insatisfação .
Porém,
Ao cair na realidade
Em que me encontrava,
Percebi que todos ao meu redor
Me olhavam com desprezo .
Alguns,
Até comentavam com quem estava ao lado
Que eu parecia um mendigo,
Um sem nada .
Não entendi o motivo
Daqueles doídos comentários,
Pois no meu campo,
Limpo,
Na minha roça caipira,
De ar puro,
E terrenos arborizados,
Eu caminhava feliz,
Com meu carro de boi .
Eu,
Em minha terra,
Era o mais próspero comerciante
De leite e queijo .
Minhas roupas,
Em minha terra,
Eram consideradas um luxo,
Porém,
Na cidade grande,
Minhas roupas eram motivo de gargalhada,
E para as pessoas que me olhavam,
Eu não passava de um sem teto .
Não quis mais andar .
Perdi a vontade tão desejada,
De realizar meu sonho .
Mesmo faminto,
Suado,
E cansado,
Dei meia volta .
Voltei pela mesma estrada,
Em direção da minha linda casa,
Feita de barro e palha .
Em vez de andar,
No caminho da volta,
Eu parecia galopar um alazão
Tamanha a velocidade em que eu seguia .
Queria voltar a minha terra,
A tomar banho,
E beber a água do meu rio .
Que raiva senti,
Na volta a todo hora me culpei,
Pois meus conterrâneos,
Sempre me disseram
Que esse sonho era louco .
Sempre me disseram,
Que ao chegar na cidade
Em vez de gritar de alegria,
Eu iria chorar de tristeza .
Na cidade,
Não existe mais liberdade .
Na cidade,
Os sonhos antigos de outrora
São esmagados pela ambição .
Os castelos acinzentados
Desamparam as almas,
Neles residentes .
Na cidade,
As pessoas são órfãs da poluição
E destruídas pela corrupção .
Quero voar,
Para sair dali o mais rápido .
Não quero mais,
Nem por um segundo
O que não posso viver .
Meu sonho virou pesadelo .
A liberdade,
Que sempre tive em meus domínios
Não percorre na cidade
Os risos da felicidade .
Eu,
Que sempre fui e serei,
Um simples e honesto caipira,
Senti na carne
Que hoje a cidade grande
Não tem mais sensibilidade .
Hoje eu,
Um simples caipira,
Sem estudo e esclarecimentos,
Tive a certeza
Que na cidade grande,
Há muito tempo,
Para minha enorme decepção,
Não se vive mais com paixão,
E,
No coração dos homens
Já se faz morta,
A mãe natureza .