Quanto a mim...

Quanto a mim que presenciei o gênese e o apocalipse

vi o fogo rasgar os céus para moldar o início

e o fim

vi a terra de outro plano em infinito azul,

inventei a cura para tantos males

Quanto a mim que recebi a graça divina e falei em línguas

construí cidades, forjei civilizações

ofereci meu corpo aos leões

e fui enterrado todos os dias

Quanto a mim que um dia fui condecorado e noutro proscrito

Vi rasgarem minhas vestes e fui lançado às chamas

Vi meu corpo vazado em lanças

e venerado como santo,

fui canonizado

Quanto a mim que cri, descri e fui batizado na beira do rio

larguei bens e família e fundei minha própria seita

eu que construí mísseis e plantei jardins

amei desconhecidos e matei irmãos

Quanto a mim que traí por setenta moedas

e aniquilei mais de setenta milhões

multipliquei pães e distribui peixes

abri mares e curei os leprosos

Quanto a mim que atravessei tantos oceanos,

subi planaltos e desci planícies

pisei na lua, risquei o sol

e sobrevivi em locais inimagináveis

Quanto a mim que já provei de tantos sabores

senti todas as dores humanas

e alegrias divinas

bebi do meu próprio sangue,

destilei lascívia e veneno,

quebrei copos de cristal

executei inocentes

redimi culpados

perdoei ladrões

fui crucificado

e ressuscitei no terceiro dia

Quanto a mim, posso assegurar

que não há nada mais

profano e divino

doce e amargo

doloroso e prazeroso

sereno e assustador

suave e tempestuoso

terno e avassalador

do que estar apaixonado...

Adam Flehr
Enviado por Adam Flehr em 14/08/2012
Código do texto: T3830968
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