O ALBATROZ
Por ser a mente uma imagem
Por ser a vida a passagem
Para fim de todos nós,
Lembro-me que estávamos a sós
Tecendo rosas nos campos,
Acendendo pirilampos,
Sussurrando a meia voz:
"Que nada, nem ninguém faria,
Nem de noite nem de dia,
Nem nesta, nem naquela vida,
Depois de juntos na lida,
Desamarrarmos os nós,
Da nossa vida entrelaçada
Da nossa chegada marcada
No rio eterno, lá na foz."
Mas bastou que um pássaro voasse
Que na praia seu canto ecoasse
Nos teus ouvidos vadios
Senti na pele um arrepio
Ao vê-lo fugir a sete nós
Num barco desgovernado,
Por mares não navegados,
E esqueceste-se de nós.
Hoje tão velho e bisonho,
Tez cansada, olhos tristonhos,
Voltas tantos anos após
Querendo algo que eu nem tenho
Pedindo tanto o que eu desdenho
Ah, volta pro teu albatroz!