O ALBATROZ

Por ser a mente uma imagem

Por ser a vida a passagem

Para fim de todos nós,

Lembro-me que estávamos a sós

Tecendo rosas nos campos,

Acendendo pirilampos,

Sussurrando a meia voz:

"Que nada, nem ninguém faria,

Nem de noite nem de dia,

Nem nesta, nem naquela vida,

Depois de juntos na lida,

Desamarrarmos os nós,

Da nossa vida entrelaçada

Da nossa chegada marcada

No rio eterno, lá na foz."

Mas bastou que um pássaro voasse

Que na praia seu canto ecoasse

Nos teus ouvidos vadios

Senti na pele um arrepio

Ao vê-lo fugir a sete nós

Num barco desgovernado,

Por mares não navegados,

E esqueceste-se de nós.

Hoje tão velho e bisonho,

Tez cansada, olhos tristonhos,

Voltas tantos anos após

Querendo algo que eu nem tenho

Pedindo tanto o que eu desdenho

Ah, volta pro teu albatroz!

Franz Znarf
Enviado por Franz Znarf em 30/08/2012
Código do texto: T3857367
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