Confissão Dilacerada

Sempre evitei a terrível solidão

Agradeço à beleza concedida

Que enfeitiça e enlouquece homens.

Tão pobres! Não percebem a cegueira.

Vejam! Sou leprosa coberta de seda!

Mais lastimável é a doce ilusão

Que reconheço, logo depois esqueço.

Ah! É tão mais gostoso e fácil ser feliz

Com uma linda mentira agradável,

Mesmo prevendo a cruel desilusão.

Como uma mulher obesa mórbida

Ciente da terrível conseqüência,

Ainda prefere aquele momento

Intenso de prazer sobre a comida

Ao ponto do juízo se tornar banal.

Mas agora, sozinha na cama, sento.

Sem escovar os dentes, descabelada.

Nua, só com uma camisa destroçada.

Enxergo-me melhor, além das remelas.

Sinto o uivo do lobo solitário...

Esse grito interno me amedronta

Continuarei assim, sem tecidos

De cores quentes e forte maquiagem

Vou inundar em minha desgraça, morrer

E renascer, nova, leve. Crisálida!

Como uma cigarra, um dia vou dizer:

Adeus Terra! Olá céu! Então cantarei...

Alto, sem medo vou atrair amantes

E grandes predadores, indiferente,

Até fechar o ciclo biológico

Que tamanho desafio sufocante

Nesta guerra fortemente enfadonha

À busca do meu tesouro interior

É tão mais profunda e misteriosa

Que a incrível Pirâmide de Quéops.

Estro de Mulher
Enviado por Estro de Mulher em 19/02/2007
Reeditado em 14/06/2007
Código do texto: T386095