Confissão Dilacerada
Sempre evitei a terrível solidão
Agradeço à beleza concedida
Que enfeitiça e enlouquece homens.
Tão pobres! Não percebem a cegueira.
Vejam! Sou leprosa coberta de seda!
Mais lastimável é a doce ilusão
Que reconheço, logo depois esqueço.
Ah! É tão mais gostoso e fácil ser feliz
Com uma linda mentira agradável,
Mesmo prevendo a cruel desilusão.
Como uma mulher obesa mórbida
Ciente da terrível conseqüência,
Ainda prefere aquele momento
Intenso de prazer sobre a comida
Ao ponto do juízo se tornar banal.
Mas agora, sozinha na cama, sento.
Sem escovar os dentes, descabelada.
Nua, só com uma camisa destroçada.
Enxergo-me melhor, além das remelas.
Sinto o uivo do lobo solitário...
Esse grito interno me amedronta
Continuarei assim, sem tecidos
De cores quentes e forte maquiagem
Vou inundar em minha desgraça, morrer
E renascer, nova, leve. Crisálida!
Como uma cigarra, um dia vou dizer:
Adeus Terra! Olá céu! Então cantarei...
Alto, sem medo vou atrair amantes
E grandes predadores, indiferente,
Até fechar o ciclo biológico
Que tamanho desafio sufocante
Nesta guerra fortemente enfadonha
À busca do meu tesouro interior
É tão mais profunda e misteriosa
Que a incrível Pirâmide de Quéops.