Queria escrever um poema que fizesse sorrir Maiakovsky

Estou preparado para fazer sorrir o poeta.

Converso com edifícios, faço escárnio com a burguesia,

Aprendi matemática contando os paralelepípedos das ruas,

Minha esferográfica é a extensão do meu fuzil ideológico,

Tenho menosprezo pela mesquinharia.

Obedeço às leis da natureza,

Trato com carinho a gota que cai da chuva

Permito que ela escorregue pelos meus cabelos

E mergulhe no algodão da minha blusa.

A pleno pulmões gritei nas praças e avenidas,

Fiquei na linha de frente dos comícios.

Acenei para amigos escondidos nas montanhas

E desci o rio de barco, na companhia de um índio.

Estou preparado para fazer sorrir o poeta.

Ensino política às crianças, falo de Marx,

Mas também apresento as poesias de Essenin,

E escrevo no perfil: “Sem forma revolucionária”,

Não há arte revolucionária”.

Acordo e durmo com a poesia

Meus dias são fragmentos de manifestos artísticos

Que aparecem e desaparecem todo tempo

Ora na rua, em casa, no trabalho ou no trem.

Minha alma crespa e áspera tem o rosto das cidades,

Que tem meu corpo como fantasia

E minha voz como orquestra.

Estou preparado para fazer sorrir o poeta.

Faço o tempo de rascunho

E escrevo para o futuro.

Contemplo as telhas das casas,

Paro na esquina e abraço um quarteirão inteiro.

Toco no céu com o dedo,

E afundo meus pés na terra até o pescoço.

Sou bobo, sério e nem uma coisa nem outra.

Sou poeta e fisgo palavras no meu anzol,

Essa é a minha forma de servir à minha pátria.

Quero ressuscitar no ventre do verso,

No doce beijo de uma ventania.

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 28/09/2012
Reeditado em 28/09/2012
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