BUSCANDO O NADA!

Buscando o nada, sinto-me vazio

No vazio, sinto-me nada.

Não sou o que sou, sou apenas o que sou

Uma imagem, uma voz, um vulto, um conceito

Sou o que não sou, sou apenas o que sou

Penso, vejo, sinto, não absorvo

Sou apenas o que não sou

Um olhar, um desejo, um senão

Um pouco mais, um pouco menos do que não sou

Se sou uma alma, se sou um pensamento, se sou uma palavra

O que é o outro? Uma alma? Um pensamento? Uma palavra?

Por que é tão difícil fazer-se entender, por que é tão difícil entender?

Por que a diferença, se tudo é igual ao nada ao final?!

A diferença pode viver todo o tempo entre nós, mas tudo e todos se igualam no destino da partida,

da transposição de almas, de corpos, de pensamentos

Será que a vida seria mais viva se houvesse a certeza da não-continuidade?

Eu, certamente, a viveria mais intensamente se fosse a minha única oportunidade de viver

Não me angustiaria em tentar estendê-la mais do que o seu tempo

Mas, a liberdade não está na vida, nem na morte

A liberdade não existe nem no vento, nem na mente

A liberdade não é uma conquista, não é um estado de espírito

Simplesmente, não existe liberdade e, sim, formas de aprisionamento

O pássaro é preso às suas asas e ao seu espaço etéreo,

O peixe as suas guelras e espaço líqUido,

A gazela à velocidade de suas pernas e à terra,

O homem aos seus pensamentos e seus preconceitos

Não há viagem, não há porto de chegada

Não há o que deveria haver,

Simplesmente porque não sou o que sou,

Sou o que sou julgado ser

Por outros que também são que julgados são

Pois isto é o que sou, não sou.