Hoje

I

Hoje não quero pedir paz mundial

tampouco que os problemas se resolvam

Não quero que meu mapa astral

indique o caminho certo para tudo

Quero apenas a eloqüência do mudo

Quero tudo o que o cego não vê

mas não daqueles fisicamente sem visão

Falo dos eternos bitolados pela TV

Que de tão bitolados não fazem revolução

E ainda ousam se acobardar com uma execução

Hoje meu universo não vai além de mim

porque às vezes é preciso ser egoísta

E acreditar mais em nós e menos nos outros

Pelo menos assim sendo, somos o escravista

da nossa própria visão realista...

Hoje quero escutar meus boleros

e pensar em mais nada além do que sou

e no que um dia minhas pernas levarão a ser

Quero a correria dos pobres aleijados

E também o suspirar de um morto enterrado

II

Hoje, amanhã talvez, ou até mesmo sempre

Nada além do que um dia já produzi

Nada além do que o silêncio absurdo

Nos ouvidos de todos que são surdos

Surdez que jamais um dia senti...

Talvez sem ter ouvidos para escutar

todos os gritos que ouço no ar

Pudesse eu apenas seguir em paz...

E não mais ter de seus gemidos agüentar

Neste mundo cada vez mais sombrio e fugaz

Hoje sem mais demora, quero por fim

POR FIM em tudo inclusive em mim

Talvez mutilar meus olhos e minha língua

Pra não mais ver e ter de lhe contar

Toda esta tortura do céu sem luar

Há hoje, quero apenas o sentido da vida

A estrada indicada para o meu viver

Quero sem mais demora a pá da lida

Que vai jogar a terra sobre meu caixão

Vazio de cinzas como o vazio do vosso coração.

Gele
Enviado por Gele em 24/02/2007
Código do texto: T392199