À você, companheira

(04/11/2012)

É tarde da noite, então me recolho

Perturba o escuro

Em fraco vermelho, em branco ou ciano

Efeito estrobo da luz da TV

Aquele som baixo, abafado e rouco

Vai dando, insistente, em segundo plano

Um peso aos olhos e vai, pouco a pouco

Cobrindo me a mente com o manto do sono

Já é madrugada

A tela se apaga

Não vejo mais nada

E é bem nesta hora que você se apresenta

De leve, esperta, entra sorrateira

Pé ante pé, vem, invade a soleira

Exige o espaço, um lugar pra ficar

Você ali perto

Rondava de esgueira

Espera o instante da aproximação

Não pede licença

Só enche o meu quarto com sua presença

Se dá o direito de usucapião

Você, companheira de muitos percalços

Que em muitos momentos esteve comigo

Momentos alegres, de dor ou perigo

Você é a única que vem visitar

Você é madona

Governa-me a vida

Nuca me abandona

Nem quando eu queria

Por ser impossível evitar sua vinda

Lhe acolho, lhe chamo agora de amiga

Lhe convido pra cama

Lhe cubro em lençóis

Lhe abraço, lhe beijo

Me deixo envolver

Pois sei, que amanhã, mesmo que o dia inteiro

Não veja sua sombra, que esteja ausente

Já tarde da noite você voltará

Você é a única com quem posso contar

A quem, de verdade, entrego o coração

Minha querida e amarga

Total Solidão