Abril Despedaçado
Deu vontade de subir num cipó de circo
E rodar como se a vida fosse apenas isso
Deu vontade de esquecer da mancha amarela
Seca de sangue que a próxima lua espera
Um golpe , uma sorte, uma quimera
Olho por olho todo mundo fica cego
E quem tem um olho só é esperto
Entende de amor quem sabe de um jeito
Que mata fere e mete medo
Mas faz-se amar do mesmo jeito
Por elo, por sangue, por dever, por medo.
Tem sempre agulha no tapete
A espera de um pé desavisado
Foi a alma boa que esquece
Que o corpo de chorar padece
Tem sempre uma mão pra esbofetear
Um rosto que tem um riso pra dar
Queria mesmo era subir num cipó
Rodar lá de cima feito em nó
Olhar tudo de longe e nem sentir dó
Soprar um sopro e fazer-me pó
tem um abraço que aperta demais
machuca e chega a cortar
não tem faca que cerre o mar
nem serra que seja alta demais pra se andar
mas ainda queria subir no cipó
e lá de cima rodar sem fim
voltar a ser criança e esquecer da palavra
brincar no balango e de pega pega
cipó é fugir
subir aquém de tudo aqui
subir longe de alguém a cair
e levando consigo quem amo
cipó pra mim é havaí
tomando água de coco chupando um caqui
cipó é nao te ver
despencando de cima
sem de onde segurar
é ver camisa amarela e não vingar
é ver o mal e não se importar
é fazer a barba todos os dias
sem se cortar.
Inspirado no filme de Walter Salles