Vida traída!

Já não sou eu que vivo em mim, mas apenas as minhas frustrações

Tentei ser o que não conseguiria ser jamais,

mas ainda assim, tentei e por todas as forças

forcei-me a não desistir,

mas a vida foi mais forte e por tantas vezes prostrou-me ao chão e por tantas vezes, fingi não perceber que estava sendo jogado ao chão pela vida,

e por tantas vezes outras levantei-me e sorri para ela considerando-a uma amiga e, esperançoso, sonhava com o dia em que ela, a vida, me faria feliz.

Agora vejo que a vida jamais tentou ser minha amiga porque jamais a quis como amiga do jeito que ela se impunha.

Jamais podeira sucumbir aos anseios da matéria, do poder, da cobiça, da inveja, das circunstâncias.

Ou se tem a nobreza de caráter e se forja a honra com ele ou se abdica da vida e lha diz NÃO!

Decisão difícil abdicar da vida quando se tem tudo para montar em seu dorso e transpor os obstáculos, pois a vida é plena de atalhos, sedutores atalhos, que nos enlevam e realçam-nos a tristeza de vidas vazias que se esvaiem lentamente sem que se perceba o sangue escorrer da alma dilacerada pela vida que a ceifa.

Uma amiga mais linda, mais nobre, toma o seu lugar. Aliás, desde o meu primeiro suspiro, choro, olhar, balbuciar, andar, ela está comigo. Acompanha-me no meu despertar de todas as manhãs, no meu caminhar às atividades do dia, nos meus prazeres, nas minhas paixões, nos meus choros, nas minhas orações, sem nada oferecer, apenas mostrar que devo ser mais humilde, mais generoso, mais confiante, mais feliz, mais humano, mais gente, menos indolente, menos covarde, mais ativo, mais prudente, mais seguro, mais amoroso, mais compreensivo, menos aflito. Ela me diz que devo viver mais a vida que me falta, aproveitar cada segundo que ainda não passou, permitir que o passado me empurre para uma atitude melhor no presente para que o futuro venha a ser o meu melhor presente, que eu não me preocupe com a eternidade, que cuide de meu corpo, de minha mente e permita a minha alma toda a liberdade. Por fim, eu vejo aquela que no início não me conscientizava sobre, mas que com o passar do tempo, passei a sentir a sua mão me tocando, me acariciando. A amiga que nunca temí, a amiga tão destratada, desprezada, amaldiçoada. Mas, a amiga que me abrirá as portas para uma nova vida, se houver, mas que em não havendo, tanto faz, pois me conduzirá para o descanso e comigo ainda estará até que a minha alma desfaça-se então na paz e no silêncio daquilo que, então, jamais, também, existiu e junto a mim desapareçamos no nada.