Vejo a vida passar duma varanda alta

Vejo a vida passar duma varanda alta

E penso em esticar os braços mas tudo é vão

E triste, fico apenas a ver

Tento perceber porquê e debruço-me sobre o mundo

Escorrego na verdade e caio em vertigem

Nas pedras frias e lisas de que é feita a realidade

E sinto ânsias de ser, azia de existir

Como quem acorda mal disposto

Vejo-me nu na rua a ser ridículo, tão perdido….

Invento tudo o que sou, para ser melhor, para me esconder

Num monte de construções lógicas, inconscientes (ou não)

Que irónicas, aparentam genuinidade, que ingenuidade

Sorrio destas palavras, triste e a boca parece saber-me apenas a nada

Esqueci-me de ser eu no conforto duma varanda de onde vejo

Passar a procissão da vida…

Tenho fúrias frias de mim e de ser eu e de estar atado nesta inacção

Impludo em desalento em mais não ser, deste inquietante

E penso as vezes que os primeiros versos da Tabacaria de Campos

São um retrato que alguém tirou á minha alma…

Sei os versos de cor, soubesse assim a minha alma…

Imagino-a aos bicos, pequena e cobarde e que no seu gosto pelo sonho

Nem se levanta da cama…

Ardem, todos estes sonhos pelos quais não luto e que talvez nem tenha de verdade….

Tudo isto dói, e fujo do real fingindo ser real

Sou uma mentira que esqueceu a sua verdade

Tiago Marcos

chomanno
Enviado por chomanno em 10/03/2007
Código do texto: T407440