Vejo a vida passar duma varanda alta
Vejo a vida passar duma varanda alta
E penso em esticar os braços mas tudo é vão
E triste, fico apenas a ver
Tento perceber porquê e debruço-me sobre o mundo
Escorrego na verdade e caio em vertigem
Nas pedras frias e lisas de que é feita a realidade
E sinto ânsias de ser, azia de existir
Como quem acorda mal disposto
Vejo-me nu na rua a ser ridículo, tão perdido….
Invento tudo o que sou, para ser melhor, para me esconder
Num monte de construções lógicas, inconscientes (ou não)
Que irónicas, aparentam genuinidade, que ingenuidade
Sorrio destas palavras, triste e a boca parece saber-me apenas a nada
Esqueci-me de ser eu no conforto duma varanda de onde vejo
Passar a procissão da vida…
Tenho fúrias frias de mim e de ser eu e de estar atado nesta inacção
Impludo em desalento em mais não ser, deste inquietante
E penso as vezes que os primeiros versos da Tabacaria de Campos
São um retrato que alguém tirou á minha alma…
Sei os versos de cor, soubesse assim a minha alma…
Imagino-a aos bicos, pequena e cobarde e que no seu gosto pelo sonho
Nem se levanta da cama…
Ardem, todos estes sonhos pelos quais não luto e que talvez nem tenha de verdade….
Tudo isto dói, e fujo do real fingindo ser real
Sou uma mentira que esqueceu a sua verdade
Tiago Marcos