Falácia dos tempos modernos

Cheguei...

Volto-me aos propósitos perdidos,

tentando suprimir as lacunas opacas,

tentando sanar os desalinhos.

Faço-me cura e redenção quando não há mais nada no passado.

Atinjo com força a madeira do batente,

Bato com força na cortina, já fechada, de chumbo esmaltado.

Trago comigo toda a sede da viagem

e as resoluções do meio-espaço da minha mente

Refiz os laços despidos de outrem,

nasci do fogo renascido de uma fênix depenada.

Requentei o prato, ministrei o veneno inofensivo.

Acordei diante do sábado ensolarado, diferente dos que lembrava.

Os mastros erguidos na partida trocam-se por farpas secas,

debeladas no escuro sombrio,

o outro lado de uma meia-noite,

o mesmo lado trespassado das correntes estagnadas.

Travaram-se batalhas por motivos óbvios

e a presença torna-me parte do conjunto.

Nascem os mártires nas colinas

mas morrem os ideias sobre as marés.

E fere o tempo, rasgando a sorte dos miseráveis,

dilacerando a carne dos que tem fome,

dando de comer aos gordos culotes, bolsos fartos.

Cria-se casca na ferida que eu vi nascer. E morrer. E nascer.

Rodam moinhos,

Cata-se o vento,

Cursam os rios e revoluciona-se a história.

Rompem-se os tratados, traem-se os ritos.

Durmo sobre o som dos tiros desesperados.

É o mesmo som da partida.

Fecho os olhos, sinto o peso das pálpebras.

Sonho que a esperança dos homens é sempre mais bela do que a indiferença da destruição.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 18/01/2013
Código do texto: T4092338
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