Falácia dos tempos modernos
Cheguei...
Volto-me aos propósitos perdidos,
tentando suprimir as lacunas opacas,
tentando sanar os desalinhos.
Faço-me cura e redenção quando não há mais nada no passado.
Atinjo com força a madeira do batente,
Bato com força na cortina, já fechada, de chumbo esmaltado.
Trago comigo toda a sede da viagem
e as resoluções do meio-espaço da minha mente
Refiz os laços despidos de outrem,
nasci do fogo renascido de uma fênix depenada.
Requentei o prato, ministrei o veneno inofensivo.
Acordei diante do sábado ensolarado, diferente dos que lembrava.
Os mastros erguidos na partida trocam-se por farpas secas,
debeladas no escuro sombrio,
o outro lado de uma meia-noite,
o mesmo lado trespassado das correntes estagnadas.
Travaram-se batalhas por motivos óbvios
e a presença torna-me parte do conjunto.
Nascem os mártires nas colinas
mas morrem os ideias sobre as marés.
E fere o tempo, rasgando a sorte dos miseráveis,
dilacerando a carne dos que tem fome,
dando de comer aos gordos culotes, bolsos fartos.
Cria-se casca na ferida que eu vi nascer. E morrer. E nascer.
Rodam moinhos,
Cata-se o vento,
Cursam os rios e revoluciona-se a história.
Rompem-se os tratados, traem-se os ritos.
Durmo sobre o som dos tiros desesperados.
É o mesmo som da partida.
Fecho os olhos, sinto o peso das pálpebras.
Sonho que a esperança dos homens é sempre mais bela do que a indiferença da destruição.