CIDADE DORMITÓRIO
Simplório, moleque de rua
Queria brinquedeos que via na TV
Não pode, muito caros
Dinheiro do pai, só dá pra comer
E pagar aluguel
Simplório cresceu brincando na chuva.
Simplório rapazinho
Queria continuar os estudos
Não pode, disse o pai
Tem que trabalhar
E ajudar a sustentar os irmãos.
Simplório é apresentado ao trem
Ao ônibus depois do trem
Hora e meia na viagem até o emprego
Marmita caquética no almoço
Hora e meia na viagem de volta
Com corpos colados
E suados no coletivo.
Fim de semana, teatro não tem
Cinema não tem na cidade dormitório
Só tem a TV, o bar da esquina
E o clube que importa música estrangeira.
Quando menos espera, uma vaga,
Bom emprego em multinacional
Não pode!
Tem que ter segundo grau completo.
Simplório não liga, já está empregado.
Simplório aprendeu a conviver com uma frase:
Não pode, não pode, não pode!
Simplório enfrenta filas e mais filas
Pra obter o pouco que pode.
18/janeiro/85 - Do livro "Criança"
Poema utilizado na prova de Geografia do vestibular da CESGRANRIO
EM 1991.