Colapso

Desculpe tê-lo feio esperar.

Não foi nada fácil abrir os laços apertados,

alçar-me sobre o parapeito

e sentir o resto de sentimento,

o resto que não era parte,

o resto que tinha cara de todo, tinha sabor de todo.

Demorei por não saber como chegar.

Tentei criar caminhos,

abrir lacunas e vazar espaços.

Tudo em vão. Ou melhor, tudo é vão.

Vão abrir mão de tudo

aqueles que souberem o quão saboroso

é tripudiar ao sabor do vento.

É bom estar aqui.

É gratificante ter conquistado isso.

É bom saber que no final

tudo foi cheio de começo,

cheio de nascer, cheio de partidas.

A despedida, que foi chegada, teve cheiro de renovação.

É bom tê-lo aqui comigo.

Fazia falta ouvir o rouco da voz,

o calor macio das palavras incertas,

o vacilar da pronuncia que,

mesmo não conhecendo entonação,

sabia encaixar o tom certo na suavidade do argumento.

Abdicar daquilo tudo parecia absurdo

não fosse a vontade de ver o outro lado,

o outro lado do presente.

Presente no lugar e no tempo.

Não estaria aqui se não tivesse admitido mais de uma solução.

Não estaria aqui se não tivesse escolhido saborear o conseguinte.

Não ia nunca perceber que o melhor lugar no mundo

é o aqui e o agora.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 22/01/2013
Código do texto: T4098578
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