Colapso
Desculpe tê-lo feio esperar.
Não foi nada fácil abrir os laços apertados,
alçar-me sobre o parapeito
e sentir o resto de sentimento,
o resto que não era parte,
o resto que tinha cara de todo, tinha sabor de todo.
Demorei por não saber como chegar.
Tentei criar caminhos,
abrir lacunas e vazar espaços.
Tudo em vão. Ou melhor, tudo é vão.
Vão abrir mão de tudo
aqueles que souberem o quão saboroso
é tripudiar ao sabor do vento.
É bom estar aqui.
É gratificante ter conquistado isso.
É bom saber que no final
tudo foi cheio de começo,
cheio de nascer, cheio de partidas.
A despedida, que foi chegada, teve cheiro de renovação.
É bom tê-lo aqui comigo.
Fazia falta ouvir o rouco da voz,
o calor macio das palavras incertas,
o vacilar da pronuncia que,
mesmo não conhecendo entonação,
sabia encaixar o tom certo na suavidade do argumento.
Abdicar daquilo tudo parecia absurdo
não fosse a vontade de ver o outro lado,
o outro lado do presente.
Presente no lugar e no tempo.
Não estaria aqui se não tivesse admitido mais de uma solução.
Não estaria aqui se não tivesse escolhido saborear o conseguinte.
Não ia nunca perceber que o melhor lugar no mundo
é o aqui e o agora.