Chapéu de palha

Lá na década de 70

Idos anos tão distantes

Lá do passado século XX

Em plena flor da minha infância.

Eu morava com minha mãe.

No Povoado Flexeiras.

Numa humilde casa de taipa.

Na rua do Iraque.

Muitas manhãs minha mãe se sentava

Comigo recostada numa parede

Para ensinar-me a fazer trança.

Quando errava um par

Levava um sopetão

Até aprender o certo

Para ajudar na produção.

Trança para confeccionar chapéu.

Com palha de carnaúba

Planta da região.

Cada braça de trança

Era mais um dinheiro

Para comprar a roupa da festa.

Da festa de São Sebastiãõ.

Tempos difíceis aqueles.

Eu e meus primos competíamos

Quem tecia mais trança.

Quem fazia mais braças

Pra comprar a roupa da festa.

Minha mãe ia costurar

Na casa da minha tia Maria.

E lá a nossa brincadeira

Era trança todo dia

E boizinhos de barro.

Feitos pelo meu primo "Ciço"

Brincávamos nos intervalos

De Corrida de Mourão.

Com as vacas e bois que fazíamos.

De barro com as próprias mãos.

E sempre aos domingos

Era a nossa diversão.

Fazia chapéu de palha

Era feliz e não sabia.

Era uma vida tranquila

Junto com minha família.

Vivida no interior.

Fui alfabetizado

Na Escola da D.Gedalva.

Foi com ela que aprendi

As primeiras letras conhecer

Com a cartilha "Novo Nordeste"

Eu pude assim aprender.

A nossa língua conhecer.

Minha vida de criança

Foi um tanto conturbada

Morei no Povoado Flexeira

E também em Propriá

Começei a trabalhar

Para minha mãe ajudar

Visto que meu pai

Só pensava em namorar.

E Foi a palha de Carnaúba

Que primeiro conheci

Tecia o chapéu da palha

E bem feliz eu vivi.

Desde pequeno,

Quando o trabalho conheci.

Foi no povoado Flexeira

Na roça do feijão e do milho

Construída por minha mãe

Que tive o primeiro contato.

Com a vida de trabalho

Não trabalhei muito

Mas conheci de perto

A força de quem sobrevive

Do trabalho braçal.

E não se envergonha daquilo

Que a todos faz feliz.

De trabalhar na lavoura

E isso eu nunca fiz.

Foi lá na humilde Flexeira

Onde tudo começou

Meu interesse pelos livros

E hoje sou professor.

Cálamo de Poesia

24.01.12

Cálamo de Poesia
Enviado por Cálamo de Poesia em 27/01/2013
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