Poema das Coisas
Belas coisas inertes
que me cercam noite e dia
sem nada dizer ou sentir.
E, silenciosas, acompanham-me
com seu olhar
comprado em suaves prestações.
Sonhos lacrados nas lojas
que em minhas mãos transformam-se
nas únicas verdades irrefutáveis
deste mundo...
E é por vós,em vosso nome,
que venho preencher agora
todos esses espaços vazios
(brancos, indefesos, calados)
não de pessoas, memórias ou abstrações,
mas de coisas palpáveis,
símbolos vivos de meus desejos.
Assim,belas coisas inertes
que, temporariamente apaziguam-me os sentidos
venho agora dedicar-vos esses versos...
desprovidos de qualquer espiritualidade...
Porque, de tudo que existe ao meu redor..
e entre todos os seres que se pensam objetos,
sois, na verdade, os únicos autênticos.
Comprados e vendidos, sem disfarces
e, para um determinado fim...
E as únicas, que, com certeza
um dia deixarei aqui, para serem repartidas
como bem quiserem...já inúteis e frias,
diluídas de mim...