Imprevistos

É estranho admirar como o acaso constrói os laços.

Constrói e desconstrói, forma e reforma.

Sem se submeter a qualquer limitação temporal,

na verdade, sem conhecer limite, se se autodimensionar.

Só consegue compreender a grandeza da própria significância

e assim sendo, cava os encontros e gera toda e qualquer matéria,

toda e qualquer troca de energia, troca de olhares,

toda e qualquer interseção de identidades.

Não me impressiona tamanha audácia,

apenas admiro a importância e a precisão das características

de uma tal força natural, seja ela natural ou não.

Precisão desconexa de incircunstancialidade,

certeza oriunda de um caos conflitante,

quase um colapso nervoso interno.

Mas que de longe permite ver a intrínseca factualidade

dos resultados a longo e curto prazo.

Cada um cabe dentro de um espaço infinito de acasos,

um desfazer autônomo de ações e resultados,

um contrabalanço de causa e consequência,

que faz com que nada que se crie seja, no mínimo,

parecido com o que já existe.

Sempre me delicio ouvindo a canção do aproximar,

fico vendo as cores através da janela,

vendo a memória instantânea mudar-se bem diante dos meus olhos.

Fico observando o ritmo se anunciar e deixo que entre.

Entre e revire todo o organismo que me pertence,

sem deixar rastro algum daquilo que representa,

nem mesmo daquilo que eu representava.

Depois de tudo, descansa por momentos nitidamente findáveis.

Se guarda e repete outra vez o ciclo de assonância

que é sua característica principal.

Convida novos personagens, guardando como relíquia

os atores aposentados.

Traz o novo e faz nutrir o que já foi surpresa.

Nem consigo imaginar o quão próximo estou de qualquer rumo.

Nem consigo, nem quero. Não me faz diferença.

Eu gosto de ser filho da eventualidade,

fazer sentir o sabor casual da bravura de um dom do universo.

O dom de não desistir, o dom de contrair as linhas,

expandir os vislumbres, fomentar a não-aliteração.

O dom de fazer com que qualquer simples peça desse mar de nomes

seja tão especial e grande, que não caiba nem mesmo dentro de si.

Nem mesmo consiga administrar seu próprio encontro consigo mesma.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 06/03/2013
Código do texto: T4174621
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