DOCE AMARO
Meus doces não se conservam
E suas compotas não comportam amor
Derretem cristais de aniz
melando com o açúcar do meu sangue
seu coração refrigerador
E tudo cai!
A paz se perde
o bom sabor se esvai
Antes que anoiteça mais uma vez
não esqueça, eu ainda estou aqui
Mesmo que só apareça o meu verniz,
se compadeça
e desça desse orgulhoso e glacial altar
Pois, antes de eu sair
antes de eu deixar,
melhor será pra ti
por nós rezar
Na arrumação vou revezar:
Meu coração brigadeiro,
mudo pássaro canoro do seu mau-amor,
Meu coracao prisioneiro,
deita e chora primeiro
E depois,
será a vez da sua insana lucidez vociferante,
mansa sensatez alucinante,
derramar balinhas de anilina,
sobre a mesa posta,
entre os docinhos delicadamente arrumados
e arruinados.
Anilina colorida sobre o vermelho das feridas!
Para fingir que é amor o mastigar das alegrias,
da juventude,
da calmaria
Para fingir um bom sabor
nas belas cores e palavras do seu amaro amor.
D.V.
27/04/06
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