A MÁQUINA
A máquina não ama.
Automática, finge que clama
por minutos quentes na cama
e se abre,
expõe os pêlos,
os grandes lábios,
a macia carne vermelha
e se deixa penetrar.
A máquina fecha os olhos
e pensa
na canção de outrora,
na mãe em silêncio
na beira da cama,
e um som vindo da rua
ilumina o segundo
que não parece ter fim.
A máquina tem que comer
e se vende
por treze moedas.
Todos xingam
a máquina.
Mas a máquina-puta
é tão mais pura
que as beatas que mentem.
Há alguma grandeza na máquina,
que não é máquina,
mas alguém preso na engrenagem.
Há alguém dentro da máquina:
prostituída Maria
da Metrópolis eterna.
E cada vez mais jovem
ela se abre à exploração
de mãos pecaminosas.