Meu Coração é um Mar em Fúria...

Meu coração é um mar em fúria,

É a correnteza espúria

Que incide sobre a mansidão das encostas

Meu coração é vinho e cúria,

Castidade e luxúria,

Que se aglutina e me divide em postas.

Meu coração é um monstro tardio,

É um porto sombrio,

Razão da tempestade.

Meu coração é o viés do navio,

Ariadne sem fio,

Que a solidez do mar invade.

Meu coração, enfim, é mar,

É estreito, é Gibraltar

E Anda à luz das canções.

Meu coração é mar aberto

E mar é líquido incerto,

Derivando ao sabor das paixões.

Meu coração é uma nau errante

É um lunar infante

E o que de mais vier...

Meu coração é um monastério de ateus

Que teimam em encontrar Deus

Num corpo lindo de mulher

Meu coração é um sôfrego trago,

Um preciso afago

Que me toma, e que me traz,

Contornando as dragas,

Em cíclicas vagas,

Da arrebentação ao cais.

Meu coração é fúria e sanha

É Mar de Espanha,

Pulsão das tormentas.

Meu coração é a íris do furacão,

É um verso que o dragão

Vocifera pelas ventas.

Meu coração é um estandarte roto,

É o andrajo do devoto,

É uma confissão na areia

Meu coração é uma ânfora partida

Uma cidreira escorrida,

É a presa fácil da sereia

Meu coração, áspero leito,

Me lacera o peito

Em lanhos medonhos.

Meu coração é o paço do gigante,

É o heróico levante,

E se alimenta de sonhos.

Sim, meu coração é um mar em fúria,

E nos abissais desejos deste pulsante,

Não haverá Netuno, Circe ou almirante

Que o contenha...

Antonio Sciamarelli

Rio, Janeiro/Fevereiro 2007

Antonio Sciamarelli
Enviado por Antonio Sciamarelli em 25/03/2007
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