Só, com o espelho

Na face negra diante do espelho,

o corpo envolto por um vermelho

vestido... Eu procuro me alterar

na maquiagem, toda me enfeitar

de bijuterias. Medo de parecer

feia, de não lhe corresponder

as expectativas alimentadas

pelo anseio. Estão guardadas

na pequena bolsinha de mão

os cigarros, o batom, a ilusão

de que a noite será eterna...

Encaro-me, cruel e terna,

pelo espelho; o que dizer?

Há lacunas a se preencher

de tanto tempo à distância,

de tudo que na lembrança

se passa... Ah, o dinheiro!

Pois não vai o jantar inteiro

pagar sozinho – até parece!

Mulher atual não esquece

que é bom se dividir conta;

que é deselegante ficar tonta

de tanto beber... Informações

para afastar todas as aflições

do peito. Tenho tanto medo;

mas melhor deixar em segredo

tudo isso. Hei de me permitir

e deixar a noite prosseguir.

Ai, a hora! Está para chegar.

Acho-me bem, pra contentar

deve bastar... Espelho, adeus!

Irei-me; e seja o que meu Deus

quiser...

Thaís Soledade
Enviado por Thaís Soledade em 07/05/2013
Código do texto: T4279173
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