A calçada

Sacrifício. Um esforço tremendo. Mas ele não resistiu... Procurou sentar-se, porém o banco mais próximo ficava longe demais. Sentiu as pernas tremerem. Apoiou-se sobre uma parede. Tentou não pensar que pudesse ser o fim. Ainda havia tanto a fazer... Lembrou memórias, respirou cheiros, apertou as mãos. E, de repente, sentiu um alívio. Aquela tranqüilidade conquistada perante um rosto sorridente. Descansou um pouco. E finalmente pode retomar a dor. Mas já não se esforçava tanto para manter-se em pé. A calçada se aproximou e ele a tocou com o corpo todo. As pedras eram geladas. Não se importou. O frio que sentia percorrer-lhe as veias era ainda maior. Percebeu-se sorrindo. Veio, de vez, a tranqüilidade. Afinal, fizera tanto em vida... Talvez fosse mesmo essa a hora. Tanto tempo! Esticou os braços e fez o sinal da cruz. Agradeceu. Deixou um lembrete, apenas pensado. Agradecia em especial aos filhos. E então não sentiu mais nada. Nem as veias, nem a calçada.

Milena Verri
Enviado por Milena Verri em 27/03/2007
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