MINHA CASA
ainda me lembro do dia
em que perdi a inocência
e comecei a conhecer a poesia.
(foi numa aula de ciências)
me rasgaram sem anestesia:
“todo ser vivo nasce, cresce,
se reproduz e desaparece”.
a morte, eu há muito conhecia,
mas dito daquela maneira
era meu primeiro banho de água fria.
depois veio a adolescência:
um mundo completamente novo
de medos, paixões e carências.
a poesia virou de vez meu estofo
e as dores se reduziram a ardências.
mortes e medos, continuaram todos,
porém agora bem menos violentos.
aprendi: faça bom ou mau tempo,
corro, abro as portas da poesia
e logo me refugio lá dentro.