SOMBRAS DA VIDA
SOMBRAS DA VIDA
A insalubridade acomete-me, sorte de baldados
Sinto as cortinas mal abertas num céu de terra
O lancinar de passos que ainda não foram dados
São-me chagas, dardos no alvo que se descerra
Para a nova gosma pestilenta a ser construída,...
Um futuro que foi passado, e é odiado na lembrança
Esquecido em conceitos ritualistas de mente poluída
Só e sempre só vou-me ao pó com dissemelhança.
Meus vícios são gostos a flagelar-me com amores
Minhas letras são palavras vestidas de realidades
Meus versos ignorantes são poemas de dissabores
E meu corpo é tão inútil quanto às minhas vaidades.
Sou um cego que memorizou o caminho da morte
Um mendigo da vida esbofeteado pela insubmissão
Que trafegou rebelde por caminhos sem transporte
Mas amei a tudo e a todos sem nenhuma distinção
Uma autenticidade exposta à mesa de toda hipocrisia
Foi meu maior crime, não me rendi ao costumeiro
Aos que se rastejam nos oportunismos com paralisia
E li os olhos daqueles que me abraçavam traiçoeiro.
O tempo faz estragos que dinheiro algum conserta
E desnuda o abjeto que és na delicadeza do orgulho
Carrega o fardo de uma transmutação que nos liberta
E voa em ventanias esculpindo um reles pedregulho.
Tenho alta desse hospício sem perdão e arrependimentos
E desprezo a chance de descansar em paz,... Visto que
Não há remanso para quem guerreia em pensamentos
E para quem se prostra a reclamar de azares em piquenique.
CHICO DE ARRUDA.