CAMINHADA

De espinho em espinho
Minha vida se desfaz,
Nas rosas pelo caminho
Vou buscando minha paz.

Mas a paisagem florida
Não revela a triste sorte:
As cores enfeitam a vida,
As flores também a morte.

Homem e poeta em mim,
Partes da mesma lição,
Quando o poeta diz sim,
O homem sempre diz não.

Já passamos dos sessenta,
Muitas farras e andança!
O homem não mais se aguenta,
Já o poeta é uma criança.

O homem, pelos caminhos,
Ao poeta sucumbiu.
Entre rosas e espinhos
A poesia floriu.

Pois o poeta não morre,
Nem tão pouco envelhece,
Na tristeza se socorre,
Na poesia se engrandece.

Na caminhada da vida
Nunca tive um só lugar.
Chegada é sempre partida,
Partir é sempre chegar.

Mas nestas idas e vindas
Eu terminei por achar
Um lugar de buscas findas,
Onde é possível sonhar.

Vou voltar pro meu passado,
Eu aqui fico mais não,
Já sofri um bom bocado
Neste futuro de cão.