Anos

Já não sei, não conto anos

Foram tantos desenganos

que os deixei de contar

Já nem sequer conto os dias

frutos de noites tardias

feitas de espera e sonhar

Já não conto mais as horas

desde que fiz-me senhora

do meu tempo pequenino

castrei meus sonhos meninos

tão tenros de mocidade

por uma felicidade

que nunca vi na viagem

que fiz aqui de passagem

Nessa vida retirante

conto de hoje em diante

os sorrisos das pessoas

tardes vividas à toa

flôres de muitos jardins

rosas, gerânios, jasmins

beijos, afagos, lembranças

de doces tempos de infância

Conto sim, a nossa história

trechos rasos de memórias

marcas fincadas no rosto

o pó de muito desgosto

Cheiros de sal e de terra

tantas batalhas e guerras

Tantas que nunca venci

Muitas nas quais eu morri

E contarei, com certeza

da vida, toda a beleza

lugares por onde andei

Mas dias, anos e meses

feitos de tantos revezes

Eu não mais os contarei

Menina do Rio

31/12/2009