O destino de Alice

Entramos em território desconhecido.

Uma tonelada de interesses, acordes dissonantes e atitudes desconhecidas nos entremeiam.

Como num quadro pintado em algum universo paralelo habitado por Alices, até a nossa fuga da realidade é marcada pela discrepância violenta das inverdades.

Mesmo que cacemos uma referência, por ora, nos falta tanto chão que não se pode discernir horizontes.

Aqui, nem os mais ardilosos coelhos encontram seus próprios destinos.

É um palco giratório.

Os cenários vão passando, os frames vão se posicionando, um após o outro.

Não existe consolo nesse mundo que transmita qualquer tipo de paz pros nossos idos. Nós queremos ir embora.

Mas ir pra onde?

Atrás dos dramáticos efeitos, não há nenhuma rota.

Se sairmos, não há lugar nenhum que nos abrigue.

Nosso povo está, literalmente, lançado ao infinito.

E esse infinito possui trejeitos quase circenses.

É um lócus disputado, um cabo de guerra arquitetado por inúmeros seres de que enxergam a luz, mas ainda se preocupam com a perseguição da sua própria sombra.

O infinito é fluido demais pra pertencer a quem quer que seja.

Só conjunturas cerceiam as forças deliberativas.

Não há análise nenhuma que determine o caminho tortuoso e fugaz, por entre o labirinto de relva.

Beco sem saída não é uma coisa que nos é presente.

Existem sempre buracos inversores, portas pequenas, pílulas de crescimento.

Enquanto Alice corre no vazio, corremos nós pelos vácuos da história.

A força da Rainha não é o que nos prende.

Na verdade, por aqui os chapeleiros acabam sendo tão malucos que não se pode criar compatibilidade entre os diversos nichos sociais.

A aristocracia é sustentada por aqueles que sonham em ser sustentados por outros.

A areia da ampulheta nunca se altera. Tudo aqui é estacionado e veloz, como se alguém acelerasse nossos interesses além da velocidade da luz.

É como encontrar nosso gêmeo cronológico em cada esquina, um irmão refletido do nosso passado.

Quanto tempo leva pra frear os interesses pessoais e deixar que a luz da civilidade nos abranja por completo, ao invés de criar mais sombras ainda?

Quantos presentes são necessários para nos desligar do passado?

Quantos futuros inférteis são necessários pra nos fazer parar de conjeturar e esquecer os "remedismos"?

Quantas Alices sobrarão no final desse país nem tão maravilhoso assim?

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 29/06/2013
Código do texto: T4364514
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