A VIDA É XADREZ

a tinta seca, a lama

dos pés dos peões

os caminhos oblíquos e dissimulados em que

os bispos se perdem e se vão

o bambu verde em volta das torres

que verga e não quebra

frascos ao mar, cheio de lágrima agridoce

o cimento fresco da coluna cervical da estátua

a cal jogada ao pé da mesma escultura

pra mumificar as formigas aposentadas

a estátua estanques, jogador quieto

em alvoroço interior

o ódio arregalado sem pintura

nas retinas vermelhas dos cavalos ameaçados

o chá mate que mata com ervas e capim santo

o rei que o bebe, a rainha aplaude

antes do arremate, "xeque-mate"