Vício Poético

Quando ele era um homem comum, andava quieto

pelas ruas e becos do seu gueto...

Dentro dele, mais do que tinha era secreto,

e vagava, descolorido em branco e preto...

Um dia virou poeta, abriu as portas

do seu gueto e entrou triunfante

numa cidade de esquinas tortas,

a cantar o mistério da ilusão ululante...

Coloriu-se de poesia e tornou-se caminhante

calçado de sonhos e de fantasia...

E hoje anda, de coração em coração, em ambulante

lirismo, que sobre o improvável tripudia...

E quando pensa em voltar ao seu gueto esquivo,

vê que do vício poético a sua mão não solta...

Então, resignado, cria o poema, já tão cativo

das musas, que não lhe é mais possível a volta...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 12/09/2013
Código do texto: T4478309
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