O ADOLESCENTE

Usa a liberdade como navalha

Rasgando no vento ruas novas

Atravessa, sem ver, as existentes

Sangra sofre se desassossega

Crê que as feridas lhe são feitas

Cego que acha inventar o mundo sempre

Nos passos únicos de seu caprichoso

O adolescente anda meio perdido

Em sua louca vontade tão incerta

Pensa que engana: só engana a si mesmo

Escravo de um insaciável desejo

O adolescente mastiga as pedras

Só para saber que elas não sabem bem

Devora-as para devorar seu anseio

E a cada dia desprende-se de tudo

Chora de puro vazio, nada lhe enche

Desfaz-se das chaves dos tesouros descobertos

Ele não quer ser prendido por nada

Nem feiura nem beleza nem intermedeio

A cada dia a mesma luta se repete

O adolescente inventa suas guerras

Para perdê-las e ir-se vencendo nelas

Com capote imaginário, defende-se do destino

Mas ele ser é touro que não se mira no espelho

Comcha Rousia

Coimbra 21,9,2013