Poema da poetisa a uma linda moça inocente
Não, moça linda, não se engana:
não tem o tal amor a boa fama
que os poetas assim declamam...
Quando os instintos reclamam,
quando a razão for se perder,
assim o amor irá lhe aparecer.
Moça, no começo ele lhe ufana,
mas, ao fim, se verá só humana
no seu pranto desconsolador.
Assim, o que chamam de amor
há de conduzir a sua vã vida...
Linda moça, há de ver perdida
toda a razão que lhe concede
Deus, quando você, tola, cede
aos caprichos de um macho.
Ele lhe fará ser o "seu cacho",
e cacheada será eternamente...
Eu lhe digo, não simplesmente
por ter comigo a sua amizade;
mas por ter sabido essa verdade
da dor do amor tão desavisada:
Já fui, sim, a moça apaixonada,
tão citada em prosas e versos,
mas que se jogou nos adversos
por no tal volúvel amor acreditar.
Vá por mim, é perigoso o amar!
É a mais sutil (e vil) armadilha:
a ponte que lhe tirará da sua ilha
e conduzirá ao mundo do sofrer.
No fim, a ponte há de desaparecer,
deixando-lhe confusa e sem solução
neste mundo repleto de desilusão!