Aurora, vento e morte.
Em todo fim posso me reconhecer agora.
Nesse dia que finda, em triste aurora,
pássaros não cantam, nem viúvas choram.
Tudo é morte e escuro,
e nada mais sinto por hora.
Que melancólicos galhos vejo balançar,
todos na mesma direção, como se fossem onda de mar.
Já fizeram por hoje muita sombra,
e ainda agora trabalham.
Trabalho de a vista descansar.
Não faço aqui resenha de meu dia,
que isso nada de útil traria,
nem a mim nem a quem lesse.
A noite escura toma a frente,
e encerra o claro dia.
Ouço ventos que se entoam
como valsa, belos soam.
Queria eu saber o que dizem,
se para mim recados trazem,
ou se são só ventos à toa.
Nem percebo a fina chuva,
mais fina que a alma,
Assim também ela não me percebe.
Nem me vê como fruta ou chão.
Apenas amansa a terra, que de sede uiva.
Nem a mim eu vejo agora.
Nem sinto dor, com a dor que aflora.
Nem vejo aqui o perigo, que via aqui outrora.
Vejo apenas a vida sedenta,
que na virtude do ócio alimenta,
toda a morte, de dentro pra fora.