Ah, o amor...

Quero-te como a areia se encharca de mar...

como a terra sedenta e frouxa

embaraça as águas da chuva

somos cães lambidos de tempo uivante de esquinas

somos também esses cães sem plumas

embarcações que afundam e rasgam mares

corre teu barco à superfície do oceano pardo

é... azul-prata a luz na sombra

da lua nova disfarçada de navio e corre

rindo rente ao horizonte

quase morre, coisa nuvem minguante

sem saber onde vai dar

com essa bússola ao norte

São pássaros dentro de mim tuas palavras

são asas que farfalham dentro da noite afagos valentes

voam teus pássaros na rosa dos meus ventos

dentro do halo, dos vales, continentes

teu outono cria asas das folhas amarelecidas

ainda arde no silêncio a doce flama do teu ser em mim

essa coisa rota, incomunicável e antiga

és magma a deslizar carícias em minhas terras caquéticas

acalento - morna ternura fragmentada e conjugada no tempo?

Corre às águas frenéticas, profusas ou às areias profundas das águas?

Quando brotam as flores e acordam todos os peixes

todos os pássaros de todas cores em revoada

piam já no ninho da madrugada

prenunciando a estação dos frutos,

Na envergadura da pétala mal aberta, esse bem fazejo

Que a manhã implora

Parece a vida pára

É a arte a estancar a dor?

É o amor a contrariar a morte?

Ah, o amor... você o amor!

Que sorte.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 21/04/2007
Reeditado em 21/04/2007
Código do texto: T458728