Sem ser e sem nada
Por ora, ficam suspensos os desatinos.
Tratem de achar uma nova casa.
Seus sonhos, aqui, não podem existir.
É o Estado Unilateral do Desamor: mães sem filhos, mortos-vivos.
O mal é seu e por ele definem-se as outras tardes.
Os saraus acalorados, os discos de vinil.
O mal é feito de resistência.
Aceitar é fazer bem, sem saber a quem.
A herança é o pior problema.
— Noites? Terminam, viram dia.
— Carnavais? Findam-se. Volta a velha fé, pudica e transtornada.
— Lacres? Rompem-se e, violados, não são mais nada além de permissão.
Legados são eternos.
Ficam os genes nos olhos dos próximos, ficam os ensinamentos dos idos, ficam as fotos dos cadáveres.
E em tempos de ruptura, não se admite perpetuar qualquer espécie de ideia.
É a exceção ao homem todo, homem nosso.
É o credo e o crédito denso contra a inconstância legitimada dos desejos comuns, puros.
É o científico e o utópico, sem ser e sem nada.
Somos nós contra nós próprios.
Que os nossos restos cheirem bem.
Que perfumem o lixo da memória.