Sem ser e sem nada

Por ora, ficam suspensos os desatinos.

Tratem de achar uma nova casa.

Seus sonhos, aqui, não podem existir.

É o Estado Unilateral do Desamor: mães sem filhos, mortos-vivos.

O mal é seu e por ele definem-se as outras tardes.

Os saraus acalorados, os discos de vinil.

O mal é feito de resistência.

Aceitar é fazer bem, sem saber a quem.

A herança é o pior problema.

— Noites? Terminam, viram dia.

— Carnavais? Findam-se. Volta a velha fé, pudica e transtornada.

— Lacres? Rompem-se e, violados, não são mais nada além de permissão.

Legados são eternos.

Ficam os genes nos olhos dos próximos, ficam os ensinamentos dos idos, ficam as fotos dos cadáveres.

E em tempos de ruptura, não se admite perpetuar qualquer espécie de ideia.

É a exceção ao homem todo, homem nosso.

É o credo e o crédito denso contra a inconstância legitimada dos desejos comuns, puros.

É o científico e o utópico, sem ser e sem nada.

Somos nós contra nós próprios.

Que os nossos restos cheirem bem.

Que perfumem o lixo da memória.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 01/12/2013
Reeditado em 02/12/2013
Código do texto: T4594934
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