Ranço

Certas tardes ela estende seus braços amorosos entorno de meu corpo fatigado, canta com seu encanto cheio das antigas melodias. Às vezes ela me entorpece os pensamentos, vagueia por mim suave, com lâmina em punho, soltando as bestas. Em seu caminho, sua língua melindrosa permeia toda minha pele, seu canto agudo, de uma fragilidade enganosa e seus beijos de conforto cruel faltosos.

De vez em quando, ela me visita sem dar recado, chega entrando sem bater à porta e invade meu peito conformado. Ela, ela me retorna os olhos claros, as velhas promessas justas, a mesma ânsia de todos os dias salpicada em sua dor característica que espalha, expande e entalha lacunas onde havia sereno mar.

Quem é ela? Mande esta maldita embora, que se afaste destas gavetas, largue os copos na mesa mesmo, que devolva todas as chaves, recoloque as recordações em seus buracos cativos e pare de retalhar meus nervos. Por que instala tanto desejo e vazio em cada poro de meu ser?

Saudade gruda ranço no céu da boca.

Senta seu peso sobre meu olhar e solta a farsa dessa voz que só inspira melancolia pelos posteriores momentos de rir. Sente a tentativa de expulsar esse amargo de meus lábios em nome do que há à frente.

Fique onde está e solte meus calcanhares.

Thaina Chamelet
Enviado por Thaina Chamelet em 04/12/2013
Código do texto: T4598685
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