RESSURREIÇÃO
O tempo ficou me espreitando.
Por alguns imensos segundos, o tempo parou.
Mudo, estático, imoto.
Houve uma implosão do tempo.
E o que era acima, ficou abaixo.
O que era manso, virou furacão.
Partiu-se o tempo em mil estilhaços,
fendeu-se o véu do mundo.
No console do carro, ganhei a rua.
De volta à casa materna, ganhei um abraço
há tanto esquecido, perdido nas areias do tempo.
E no tempo a tempo, no dia a dia, fui ganhando:
tempo de lazer, tempo de mudar, tempo de colher.
Plantei também: sobrou-me tempo. Cresci.
Eu não queria, não sabia que queria.
Anestesiado, amputado dos sonhos.
Fiz meus planos, ganhei espaço, ganhei tempo.
Ganhei leveza nos passos, mais largos.
Viver! Agora é moda. Na roda viva da vida, ganhei
meu carrossel. Minha roda gigante, montanha russa.
Agora vivo os dias e as noites que antes sequer sonhava.
Solto minhas pipas ao vento, ando em nuvens.
Palmilhando minha estrada, não há barreiras;
Renasci.