Adeus, metafísica

E aquele que, cercado por mentirosos, tentar manter-se íntegro, aos poucos, sente vital necessidade de também mentir. Assim, se todos que o cerca mentem, crede, também mentes, principalmente se pensas que ainda és íntegro. Nada, na orgânica ilusão da vida, faz-se inalterado pela vivência. Estar vivo não é viver. Estou vivo e, portanto, existo como matéria, mas sinto-me inerte a tudo, a todos. Aprendo, com o corte mais fino de uma navalha diamantada, que a vida é efêmera, como o pousar de uma andorinha que espera a todos para seguir um ciclo curto e também passageiro.

Viva. Viva por ti e não por mais ninguém. Viva, que mesmo que te tirem tudo, ainda restará a vida que vives. Ah, se me deixassem a vida. Não, roubaram-me ela junto com alguns contos de réis que guardava em homenagem a meu avô, um velho caduco e sem educação que não merecia nenhuma homenagem sequer, nem mesmo das mais simples. Chega, moleque; Não vai pensando que tudo é feliz, só existe felicidade nos tolos. Ele estava certo e eu, por muito tempo, soube ser tolo sem sentir-me um. Não mais. Ser tolo é uma benção quando não se sabe- da condição de tolice; mas, a partir do momento que se percebe como tolo, a vida deixa de ser vivida. Sou tolo. Exista-se. Existo. Exaurido, mas existente. Hoje mostro a todos minha maior conquista: a exaustão.

Pessimismo? Estou farto, saturei-me. Tudo passa ao ridículo: bolas de natal, o samba, o céu ou o inferno, até deus e o tal diabo. Não, não é que não existam, talvez existam, mas não vivem; não em mim. Não tema palavras, pequena. Não tema palavras. Não louve-as nem chore por elas, porque palavra é pura e simplesmente uma junção de letras que dá a falsa impressão de sentimento. Se palavras fossem sentimentos, pequena, esse texto estaria chorando, assim como eu. Não está. É apenas papel, rabisco com tinta, hoje e sempre.