O PEQUENO GAROTO, DA PEQUENA CIDADE
Ele já tinha seus dezesseis
quando decidiu mudar.
Sair do interior
e o mundo namorar.
No coração um sonho,
na alma a coragem,
na mochila algumas roupas,
na mão direita uma passagem.
Ele olhava para trás,
com os olhos marejados.
Ao fundo toca uma música,
algo de Roberto Carlos.
Mas aquele lugar não lhe pertencia
Ali o tempo não passava, ali nada acontecia.
Alguns sentimentos lhe pediam pra ficar
Mas ele estava decidido.
Ele estava decidido.
E no ônibus ele entrou para nunca mais voltar.
Ele estava no seu assento.
Poltrona vinte e nove.
Na sua playlist toca agora:
"Isn't she lovely"
Ele se lembra de sua mãe,
das corridas pelo sítio.
Lembra de coisas que julgava ter esquecido.
O velho trator de seu vô,
a cadeira de balanço, a sombra da macieira,
os quedas do barranco...
Tudo era passado para ele.
Tudo era pouco pra ele.
Ele chega ao seu destino.
Tudo é rápido demais.
Em poucos dias ele se esquecera
do número de seus pais.
Ele vive de bar em bar
Lutando pela sorte,
com seu novo violão,
e umas doses de Jhonnie Walker.
As notas soltas são bem diferentes,
de sua antiga melodia,
hoje ele toca alguma coisa,
que nada se parece com a poesia que fez um dia.
Naquela velha fogueira,
iluminados pelo luar,
onde o som de seu violão,
fazia todos se emocionar.
Certa noite ele sonha,
com o velho lugar.
Acorda assustado,
sem ninguém pra lhe ajudar.
Ele então se pergunta,
como chegou ali.
Já estava com 38
e sem motivos pra sorrir.
Seu pequeno apartamento,
seu pequeno julgamento.
Sua vida de vícios,
seus anos de desperdício.
Ele se lembra dos pássaros,
dos mergulhos no velho lago.
Se lembra de seus pais,
da proteção, do afago.
No coração um sonho,
na alma a coragem,
na mochila algumas roupas,
na mão direita uma passagem.
Ele olhava para trás,
com os olhos marejados.
Ao fundo toca uma música,
algo de Roberto Carlos.
Mas aquele lugar não lhe pertencia
Ali o tempo não passava, ali nada acontecia.
Alguns sentimentos lhe pediam pra ficar
Mas ele estava decidido.
Ele estava decidido.
E no ônibus ele entrou para nunca mais voltar.