=ANDORINHA= (do livro-poema) Parte 7 Epílogo

ANDORINHA (do livro-poema) Parte 7 (Epílogo)

= XIII =

Através da vidraça

Ele olha através da vidraça,

A noite suspira o silêncio agudo

Do dormitório vazio, esvaziado,

Quer fingir que ouve,

-O que na verdade precisa-

Escutar das vozes espalhafatosas

Dos colegas ausentes,

A invenção tênue, fugaz,

De um momento de felicidade...

Tudo muda, nada é durável...

Se o agora é triste,

O amanhã, talvez “vista”

Uma roupa condizente

Com o dia que se abre,

Que se estende solidário

Com o dobrar dos sinos da Catedral,

Que anunciam com persistência o Natal!

= XIV =

SONETOS DOS ÚLTIMOS DIAS...

O internato se fez entristecido,

Sem as vestes da alegria da aurora...

Cada passo tênue é percebido

Pelo silêncio gélido do agora...

É “duro” ver o pátio amortecido

Sem ouvir “passarinhada” de outrora,

Sem o vozeio ledo descabido,

Como onda que invade de fora a fora...

Não existe coisa mais triste, garanto,

Que uma escola DE FÉRIAS, sem quem cante,

Ou declare a razão de um existir...

Nada é mais gélido do que essa ausência

Que torna o próprio nada uma vivência,

Que aumenta a fraqueza do desistir...

Calma, como “Serrinha”, a noite desce,

Acende o céu e o coração no peito.

A ansiedade, pouco a pouco cresce

E o sorriso se abre mais-que-perfeito...

De repente, dona Edith aparece,

Toma Nelsinho em seu abraço estreito,

Num sussurro, como se fosse prece,

Anuncia pra ele num tom sem jeito:

-Sua Mãe ao telefone, impaciente,

Exige que retorne prontamente,

Mesmo sem a presença do “seu tio!...”

-Não sei o que ouve, mas sinceramente

Está irredutível... Por mais que eu tente,

Não posso pôr-me entre a cera e o pavio?...

=XV=

Epílogo

O olhar verde como o mar,

Fez-se mais verde do que a água

Posta ao sol a rolar na areia alva

Como duas esmeraldas cintilantes...

O olhar verde como o mar

Perpetua-se em seus guardados,

Visualiza explicações,

Formata o mundo!

O olhar verde como o mar

Nelsinho levou com ele...

Afinal todas as horas guardadas

Afloraram sentimentos nunca experimentados...

Não sei se você está vivo,

Se você existe,

Ou se isto agora importa.

Depois desses anos todos

Tudo mudou, nada é coerente

E nem poderia sê-lo...

Porque as voltas do mundo

Excluem retornos,

Qualquer rastro “si quer”...

De concreto mesmo,

Só a lembrança efêmera que vive em mim,

E o mar do seu espanto,

Que também mudou de cor...

Ronaldo Trigueiros Lima

RONALDO TRIGUEIROS LIMA
Enviado por RONALDO TRIGUEIROS LIMA em 23/01/2014
Reeditado em 01/02/2014
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