CLOWN
Como um personagem
de Ionesco, guache e coxo,
caminho solitário,
falando sozinho
e esperando o mimetismo
de me ver transposto
em mim mesmo.
Afronto a carranca
de truão, de meu irmão
na vida. Vibro da intensidade
das chamas alheias.
Espero ver-me revertido
em fruta e em pão,
no olhar do outro.
Olho a chispa
do impensável.
Amo os meus dessemelhantes.
os que fizeram de mim
esta notória dissidência.
Ricardo S. Reis